É incrível como algumas músicas nos marcam. Não apenas pela música em si, mas pelo que ela evoca. Ouvir alguns poucos acordes, e já estamos em outro lugar completamente diferente, com um cheiro antigo e cores esquecidas tão familiares. Em quantos momentos, não é a música o chá e as madalenas de Proust?
"Ela mandou buscar um daqueles bolos pequenos e roliços chamados 'madalenas', que parecem ter sido moldados na concha estriada de uma vieira. E não tardou que, maquinalmente, abatido pelo dia taciturno e pela perspectiva de um triste dia seguinte, levasse à boca uma colher de chá onde deixara amolecer um pedaço de madalena. Mas, no preciso instante em que o gole com migalhas de bolo misturadas me tocou no céu da boca, estremeci, atento ao que de extraordinário estava a passar-se em mim. E Combray inteira mais os arredores, tudo isso que toma forma e solidez, saiu, cidade e jardins, da minha xícara de chá."
Então, por que não, quando em viagem, deixar a máquina de lado por um tempo e pousar o pensamento por um momento em alguma música que concorde com o lugar, o sentimento, as pessoas, o que queira? O importante é que haja mais do que simples fotos das suas andanças, mas um estado de espírito que dure na memória.
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